terça-feira, 27 de abril de 2010

NOTÍCIA

Geografia preservou tradição quilombola
Especial para a a Folha de S.Paulo, em Goiás

Antes de englobar parte do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, o município de Cavalcante já abrigava um dos principais quilombos brasileiros: a comunidade calunga.

É fácil entender por que os escravos que escapavam se refugiavam nessa região mais de 200 anos atrás. A chapada dos Veadeiros é um mar de serras, morros, cânions, cachoeiras e olhos-d'água, e os paredões de pedra formam muralhas penosas de ultrapassar. O isolamento foi a defesa contra os senhores de escravo que queriam reconduzir os quilombolas à escravidão. E esse isolamento --que diminuiu bastante nos últimos anos-- contribuiu para preservar a identidade e o modo de vida tradicional.

Atualmente, alguns povoados recebem turistas e permitem que eles tomem banho nas cachoeiras locais. Em Engenho 2, uma das líderes locais, dona Getúlia Moreira da Silva, 46, faz comida para os visitantes e vende tecidos feitos à mão. Muitas mulheres calungas ainda sabem descaroçar o algodão, estirá-lo, colocá-lo no pau do fuso e rodar para fiar a linha.

"Desde que me entendo por gente, vivemos do que arrancamos da terra: arroz, feijão, milho, mandioca, abóbora, quiabo, coentro e alho. Hoje falta lugar para plantar. Os grileiros venderam muitas terras. Agora, com o sítio histórico do calunga, esperamos que a situação mude", explica dona Getúlia. A área foi reconhecida oficialmente em 1991 como sítio histórico que abriga o Patrimônio Cultural Calunga.

"Antes, tínhamos medo dos turistas. Eles entravam, não falavam com ninguém. Depois, começamos a organizar as visitas", afirma. Questionada sobre o número de habitantes da comunidade em Engenho 2, responde: "Conheço todo mundo, mas tenho de fazer a conta". Há cerca de 60 casas ali.

"Ainda tem muita gente analfabeta aqui, mas já temos escola da 1ª até a 5ª série. Antigamente, todos moravam na beira do rio. Hoje, já tem até água encanada e agente de saúde "filho da terra"."

Um dos principais debates na aldeia gira em torno da chegada iminente da energia elétrica. "Só usamos lamparina. Tudo é feito em cima da hora porque não temos geladeira. Até o frango matamos na hora", diz dona Getúlia.

"Na época da eleição, conhecemos muita gente; eles sempre vêm fazer propaganda. Só o prefeito que vem de vez em quando."

Jorge Moreira de Oliveira, 35, costuma viajar a Brasília e Goiânia para reuniões sobre a comunidade nas quais defende melhorias como mais escolas, atendimento médico e turismo organizado.

"Não há normas certas sobre os turistas. Precisamos definir bem as coisas para evitar problemas e parar de perder as tradições", alega. "Mesmo em Brasília, muitos calungas encontram gente da comunidade e procuram casar entre si." Com frequência cada vez maior, os jovens vão estudar em cidades próximas e não retornam.

Cerca de 4.000 calungas se espalham por vilarejos em Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre. Fundada em 1740, Cavalcante (a 330 km de Brasília) foi a capital regional da chapada dos Veadeiros até a ascensão de Alto Paraíso.

Segundo Ion David, 29, diretor da agência Travessias, "as pessoas têm preconceito em relação aos calungas. Pode-se dizer que eles fazem trabalho forçado na região, algo como uma escravidão remunerada". Festas típicas como as de Nossa Senhora das Neves e d'Abadia, além das folias de Reis, de São Benedito, do Divino, de Santo Antônio e de São João, atraem membros da comunidade calunga e de cidades próximas.

Muitos calungas são religiosos, mas não deixam de contar histórias dos seres dos rios.

A piratinga monstro (maior peixe de couro do Brasil, que chega a pesar mais de 150 kg) devora os dedos dos jacarés. A pirarara (peixe com uma faixa amarela) vive na cachoeira do Funil, "deitada em cima de uma corrente de ouro". Os calungas contam que ela tem a cabeça apoiada num lado da cachoeira e o rabo no outro. A maioria das crianças sabe de cor os nomes dos peixes.

FOLHA ONLINE
CONTRIBUIÇÃO - WELLINGTON - 1 LIC QUIMICA

sábado, 24 de abril de 2010

Vejam as tarefas postadas

Roteiro de pesquisa/ turmas IFG

Em grupos de 5 pesquisem segundo o roteiro:

1. Negro e mercado de trabalho.
Considerem as realidades
- Nacional
- Estadual
- Local

Desenvolva os tópicos
- Principal ramo de atividade de atuação do negro
- Desemprego
- Condições de vida
- Rendimento médio

Fatores determinantes
- Educacionais
- Culturais

2. O negro e a criminalidade


Esta pesquisa tem o valor de 10,0
Será apresentada no final do bimestre em data a ser agendada.

Professora Maria Aparecida

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Navio negreiro - fragmentos

Navio Negreiro
Castro Alves

I
'Stamos em pleno mar...
Doudo no espaço Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...

........................................................
Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.
Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!
...................................

III
Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!
E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...
das imensidades! Varrei os mares, tufão! ...

................................................

VI

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia? Silêncio.
Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ...
Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!