Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Goiás
Disciplina: Língua Portuguesa
Professora: Maria Aparecida Oliveira Borges
Licenciatura em Química I período
Relatório 01. Afrocultura
Equipe: Gleyciene Marques
Ergino F. Sales
Matheus Couto
Emerson Correia
Uruaçu 29 de junho de 2010
Introdução
Os preconceitos raciais, a valorização da cultura afro como berço de nossas raízes, costumes, danças, a religiosidade, respeito às diferenças, direitos e deveres, as origens, lutas e conquistas tudo isso são pontos determinantes que devem ser esclarecidos e abordados, para que essas relações culturais que tanto ajudaram a formar uma única cultura que é a brasileira não se disperse e se perca no tempo.
Para a maioria das pessoas esses são assuntos de pouca relevância, sequer percebem que convivemos diariamente com uma realidade de preconceito e negação das próprias origens. Em geral, desconhecem que há uma grande parte da sociedade brasileira sofrendo os efeitos da discriminação no trabalho, na escola e no convívio social. É uma realidade não divulgada internacionalmente, mas velada, escondida até mesmo dos próprios sujeitos discriminados.
Buscando um maior conhecimento sobre essa temática pesquisamos, assistimos a palestras e entrevistas e finalmente visitamos a comunidade kalunga de Cavalcante.
Palestra e entrevista com professor José Dias “Todos nós somos negros”Após ser recebido pelos professores e acadêmicos do IFG com o café da manhã o professor José Dias iniciou sua apresentação falando sobre os valores humanos, respeito entre as pessoas e as diferenças e religiosidade.
Ele disse ser tímido em lugares desconhecidos, mas que logo se familiariza com as pessoas, que devemos ter cuidado onde pisamos e “não passar por curvas para não achar garranchos” pois muitas vezes agimos de forma errada e sem pensar.
Apresentou toda vida de trabalho, sua infância, falou a respeito da sua comunidade e de outras. Leocarde de Arraias na Bahia casado com uma moça de Cavalcante Goiás deu nome a comunidade.
O quilombo é habitado hoje por cerca 116 pessoas, que para a sua formação passaram por diversos conflitos de terras e disputas com outros povos e fazendeiros.
Para ajudar na sobrevivência da comunidade existem projetos como o de confecção de bonecas e outros artesanatos locais.
Porém falta a influência de um líder para que a comunidade seja melhor desenvolvida e mais benefícios sejam levados.O governo ajuda no investimento necessário a preservação da identidade da comunidade, através de cesta básica, remédios, recursos em projetos regularizados, desde que seja registrado e certificado.
Porto de Leocarde mantém vínculos harmônicos e uma ótima relação entre diversas comunidades espalhadas pelo Estado de Goiás, como Cavalcante na Chapada dos Veadeiros e Pombal no Vale do São Patrício, onde essa união ajuda a preservar toda herança cultural.Comemoram diversas festas durante o ano como Festa Junina, Romaria de Sant'ana, dia de Santa Luzia, com danças tradicionais, tais como o chorado e a Dança de Zabumba.
Essa comunidade é uma das 252 comunidades quilombolas reconhecidas pelo Governo, e existem outras 77 não reconhecidas.
Visita a comunidade Kalunga de CavalcantePela orientação de nossos professores do IFG e do professor José Dias, no dia 17 de junho de 2010, formamos um grupo de alunos e visitamos a comunidade Kalunga de Cavalcante a aproximadamente 280 km de Uruaçu, situada na Chapada dos Veadeiros.
Na chegada da cidade de Cavalcante conhecemos Isabel, descendente e moradora da comunidade kalunga, nossa guia durante toda visita. Nos hospedamos na pousada e fomos em direção a comunidade.
Chegando a comunidade conhecemos os outros guias e os moradores da casa. Almoçamos todos juntos e observamos a diversidade de influências culturais que a comunidade sofreu ao longo dos anos. A comida que comemos é toda produzida nas redondezas da comunidade, o arroz é plantado e colhido nas próprias terras, as verduras e legumes em hortas, e aves que são criadas por eles mesmos.
Após o almoço fomos explorar as cachoeiras da região, que apresentava uma rica reserva ambiental com diversidade da flora e fauna do cerrado. Nossos guias nos levaram a cachoeira da Capivara, um desfiladeiro cercado por uma vegetação exuberante, onde correm águas cristalinas.
No caminho o guia mais velho nos conta um pouco sobre suas origens. Ele diz não lembrar muito, pois sua avó não lhe falava muito sobre o assunto. Ele disse que os primeiros negros que fugiam das fazendas se abrigavam ali nas regiões mais montanhosas onde era difícil o acesso dos capitães do mato, e se encontraram com indígenas que habitavam a região, assim houve uma miscigenação de raças e culturas.
Apreciamos a beleza da cachoeira e banhamos em suas águas até o cair da tarde. Voltamos para a comunidade e quando chegamos já era noite e observamos o processo de fabricação caseira da farinha de mandioca. A mandioca já descascada é ralada em um ralo de angico, um pedaço do tronco de uma árvore com casca áspera. Essa massa coada em uma peneira é levada a um forno de lenha circular feito de barro com uma pedra no centro onde é espalhado a massa na sua superfície.
Presenciamos a torragem da farinha na hora que é ensacada e depois deixada para secar. No fim da produção são colocados galhos com folhas em cima da pedra para evitar o choque térmico, e uma possível quebra. Jantamos na comunidade, nos despedimos dos moradores e voltamos para a pousada. Tomamos banho e parte do grupo ficou descansando na pousada e a outra aproveitou para conhecer melhor a cidade.
No outro dia tomamos café em uma panificadora da cidade, e voltamos para pousada para arrumarmos nossas coisas e retornarmos a Uruaçu.
Com essa visita à comunidade de Cavalcante conseguimos aproveitar e vivenciar parte da realidade cultural dos Kalungas, um povo solidário, unido às outras comunidades, onde as pessoas apresentam uma rica diversidade cultural valorizada e conservada dos antepassados até os dias atuais. Que sobreviveram com seus próprios esforços durante muito tempo até serem reconhecidos pelo governo, em agosto de 2004.
Consideramos extremamente necessário esse tipo de investigação, especialmente para nós, acadêmicos dos cursos de Licenciatura, uma vez que atuaremos diretamente na sala de aula, tendo nas mãos a possibilidade de conduzir nossos estudantes à reflexão e à discussão das suas crenças fazendo com que pelo próprio desvelamento, as atitudes preconceituosas de alguma forma se reduzam e assim contribuamos para a construção de uma sociedade mais igualitária num futuro não muito distante.