sábado, 10 de julho de 2010

Crônica


Crônica para pensar

Pelo menos uma vez por mês vou à Lotérica pagar contas. Sem perceber fico ali observando o comportamento das pessoas enquanto espero minha vez de ser atendida. Em geral ficam apáticas, preguiçosas, entediadas com a espera. Quase não falam umas com as outras. Parecem emburradas. Só quando entra um compadre, uma colega de trabalho é que o clima muda. Aí não tem jeito, a gente acaba se esquecendo do tempo perdido na espera.

Neste mês aconteceu algo diferente. Estávamos ali assentados, senha na mão, olhos grudados no marcador, quando um senhor idoso quebrou o silêncio com voz forte. Reclamava seu direito de ser atendido prioritariamente, sem ter que esperar na fila do caixa “prioritário.” Falava com veemência desafiando os outros clientes da agência a esboçar qualquer opinião contrária. Ninguém se manifestou nem contra nem a favor. Assistiamos calados, reverentes.

Fiquei olhando pra ele com admiração. Analisei seu perfil: era negro, cabelos grisalhos, uns 65 anos, de óculos, vestido de camiseta e calça jeans, sapatos esportivos, uma figura comum, fácil de ser confundido com um negro qualquer que aceita passivamente as interpretações das leis feitas pelas mais diversas instituições brasileiras, em que o povo é tratado como gado que se leva tangido de um lado para o outro, indo sem saber por que e nem pra quê, tocado por mãos despreparadas, mas poderosas. É assim que caminha a maior parte do povo nesses lugares.

Aquele homem era diferente. Falou alto:

- A lei tem que ser cumprida. Não fui eu que inventei. Não vou ficar esperando, nem mesmo na fila dos prioritários. Devo ser atendido prioritariamente.

Olhava desafiadoramente pra nós e continuava:

- Não vou ficar em fila nenhuma! Lei é lei. Fizeram, agora têm que cumprir.

O caixa já o estava atendendo, mas ele continuava didaticamente argumentando. Pensei: que coragem! Eu não faria isso até pra não ser alvo dos olhares medíocres das pessoas. Tive vontade de conhecê-lo, saber onde havia aprendido a ser tão corajoso, mas não o fiz. Ele podia se ofender, me confundir com uma opositora dos seus direitos. Preferi guardar aquele momento como algo raramente visto na nossa sociedade. Algo pra se contar aos amigos que também o admirariam e o valorizariam por sua capacidade de argumentar em causa própria.

Interessante é que só percebi sua existência quando ele reclamou o seu direito. Lembrei então da conclusão a que chegou o filósofo e matemático Descartes quando questionou e colocou em dúvida todo o conhecimento aceito como correto e verdadeiro após duvidar da sua própria existência, mas comprovada ao ver que pode pensar e se está sujeito a tal condição, deve de alguma forma existir. “ Penso logo existo”.

Uruaçu, 28 de junho de 2010.
Maria Aparecida de Oliveira Borges

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Relatório Projeto Cultura Afrodescendente

O intuito da entrevista que realizamos era inicialmente para se abordar sobre a cultura afrodescendente em nossa região, porém o assunto que mais ou talvez o único abordado foi o preconceito contra negros.Isso por si só já demonstra que o que vem à cabeça de muitos ao se falar sobre afrodescendentes é a questão do racismo.Esquecemos completamente do assunto original. Isso por um lado é extremamente negativo, pois é a prova de que não tivemos capacidade de direcionar as perguntas e desenvolver uma pesquisa sobre o assunto inicialmente proposto,porém pode-se dizer que levantar questões sobre problemas que cercam os afrodescendentes é algo bem mais crítico do que simplesmente se levantar questões sobre sua cultura. Acredito que a intenção do MEC ao colocar a temática no PNE como algo obrigatório seja principalmente possibilitar o rompimento com o preconceito e limitações que ainda existem em relação aos afrodescendentes.

O professor Joel da UEG deu valiosos relatos sobre a questão do preconceito em relação aos afrodescendentes, o que podemos perceber foi o fato de que o pior e maior preconceito que cerca os negros é o que eles têm consigo mesmos. Joel afirma que nunca foi vítima de casos sérios de racismo, e que quase nunca se achou pior ou melhor que ninguém por sua cor de pele. Isso nos leva perceber que o principal problema é a questão dos negros se desvalorizarem, pois se criam cotas para negros e não para pessoas com menos acesso a educação. Será que uma pessoa negra possui menor capacidade que pessoas brancas? Na minha opnião não!

Como foi dito por Joel em sua entrevista, esse pensamento do negro ser inferior vem desde a época colonial,em que o negro como escravo que era tratavam-no como um objeto.Induziam-no a aceitar que ele não passava de um ser inferior e que aquela era sua única serventia.Como foi dito por Joel “Com a alforria lhe deram a liberdade mas não o direito a cidadania”.Mesmo após os libertarem eles continuaram a serem tratados com desprezo e principalmente a se verem com desprezo. O reflexo dessa visão pode ser percebido até hoje em cotas e coisas do gênero.

Joel que é graduado em direito afirma que perante a lei todo cidadão é igual e tem os mesmo direitos e que isso tem que ser colocado em prática. Essa visão tem que ser entendida principalmente por negros, pois muitos ainda têm a visão de serem inferiores. Há vários negros que realmente não tem condições muito favoraveis para se ter uma vida melhor,é um fato que não se pode negar. Porém o que se deve ser feito é concientizar a todos, brancos e negros, de que são todos iguais, e de se dar educação e oportunidades a todos de modo igual já que somos todos iguais.

Por quê uns têm mais vantagens do que outros?Isso deve mudar!Apesar da entrevista ter ido para um rumo um pouco diferente da intenção inicial,ela foi de certo modo extremamente lucrativa.

Por:Marcos F.Almeida

quinta-feira, 1 de julho de 2010

RELATÓRIO DE ATIVIDADES

Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Goiás
Disciplina: Língua Portuguesa
Professora: Maria Aparecida Oliveira Borges
Licenciatura em Química I período



















Relatório 01. Afrocultura

Equipe: Gleyciene Marques
Ergino F. Sales
Matheus Couto
Emerson Correia















Uruaçu 29 de junho de 2010





Introdução

Os preconceitos raciais, a valorização da cultura afro como berço de nossas raízes, costumes, danças, a religiosidade, respeito às diferenças, direitos e deveres, as origens, lutas e conquistas tudo isso são pontos determinantes que devem ser esclarecidos e abordados, para que essas relações culturais que tanto ajudaram a formar uma única cultura que é a brasileira não se disperse e se perca no tempo.

Para a maioria das pessoas esses são assuntos de pouca relevância, sequer percebem que convivemos diariamente com uma realidade de preconceito e negação das próprias origens. Em geral, desconhecem que há uma grande parte da sociedade brasileira sofrendo os efeitos da discriminação no trabalho, na escola e no convívio social. É uma realidade não divulgada internacionalmente, mas velada, escondida até mesmo dos próprios sujeitos discriminados.

Buscando um maior conhecimento sobre essa temática pesquisamos, assistimos a palestras e entrevistas e finalmente visitamos a comunidade kalunga de Cavalcante.

Palestra e entrevista com professor José Dias “Todos nós somos negros”

Após ser recebido pelos professores e acadêmicos do IFG com o café da manhã o professor José Dias iniciou sua apresentação falando sobre os valores humanos, respeito entre as pessoas e as diferenças e religiosidade.

Ele disse ser tímido em lugares desconhecidos, mas que logo se familiariza com as pessoas, que devemos ter cuidado onde pisamos e “não passar por curvas para não achar garranchos” pois muitas vezes agimos de forma errada e sem pensar.
Apresentou toda vida de trabalho, sua infância, falou a respeito da sua comunidade e de outras. Leocarde de Arraias na Bahia casado com uma moça de Cavalcante Goiás deu nome a comunidade.

O quilombo é habitado hoje por cerca 116 pessoas, que para a sua formação passaram por diversos conflitos de terras e disputas com outros povos e fazendeiros.
Para ajudar na sobrevivência da comunidade existem projetos como o de confecção de bonecas e outros artesanatos locais.

Porém falta a influência de um líder para que a comunidade seja melhor desenvolvida e mais benefícios sejam levados.O governo ajuda no investimento necessário a preservação da identidade da comunidade, através de cesta básica, remédios, recursos em projetos regularizados, desde que seja registrado e certificado.

Porto de Leocarde mantém vínculos harmônicos e uma ótima relação entre diversas comunidades espalhadas pelo Estado de Goiás, como Cavalcante na Chapada dos Veadeiros e Pombal no Vale do São Patrício, onde essa união ajuda a preservar toda herança cultural.Comemoram diversas festas durante o ano como Festa Junina, Romaria de Sant'ana, dia de Santa Luzia, com danças tradicionais, tais como o chorado e a Dança de Zabumba.

Essa comunidade é uma das 252 comunidades quilombolas reconhecidas pelo Governo, e existem outras 77 não reconhecidas.

Visita a comunidade Kalunga de Cavalcante

Pela orientação de nossos professores do IFG e do professor José Dias, no dia 17 de junho de 2010, formamos um grupo de alunos e visitamos a comunidade Kalunga de Cavalcante a aproximadamente 280 km de Uruaçu, situada na Chapada dos Veadeiros.
Na chegada da cidade de Cavalcante conhecemos Isabel, descendente e moradora da comunidade kalunga, nossa guia durante toda visita. Nos hospedamos na pousada e fomos em direção a comunidade.

Chegando a comunidade conhecemos os outros guias e os moradores da casa. Almoçamos todos juntos e observamos a diversidade de influências culturais que a comunidade sofreu ao longo dos anos. A comida que comemos é toda produzida nas redondezas da comunidade, o arroz é plantado e colhido nas próprias terras, as verduras e legumes em hortas, e aves que são criadas por eles mesmos.

Após o almoço fomos explorar as cachoeiras da região, que apresentava uma rica reserva ambiental com diversidade da flora e fauna do cerrado. Nossos guias nos levaram a cachoeira da Capivara, um desfiladeiro cercado por uma vegetação exuberante, onde correm águas cristalinas.

No caminho o guia mais velho nos conta um pouco sobre suas origens. Ele diz não lembrar muito, pois sua avó não lhe falava muito sobre o assunto. Ele disse que os primeiros negros que fugiam das fazendas se abrigavam ali nas regiões mais montanhosas onde era difícil o acesso dos capitães do mato, e se encontraram com indígenas que habitavam a região, assim houve uma miscigenação de raças e culturas.
Apreciamos a beleza da cachoeira e banhamos em suas águas até o cair da tarde. Voltamos para a comunidade e quando chegamos já era noite e observamos o processo de fabricação caseira da farinha de mandioca. A mandioca já descascada é ralada em um ralo de angico, um pedaço do tronco de uma árvore com casca áspera. Essa massa coada em uma peneira é levada a um forno de lenha circular feito de barro com uma pedra no centro onde é espalhado a massa na sua superfície.

Presenciamos a torragem da farinha na hora que é ensacada e depois deixada para secar. No fim da produção são colocados galhos com folhas em cima da pedra para evitar o choque térmico, e uma possível quebra. Jantamos na comunidade, nos despedimos dos moradores e voltamos para a pousada. Tomamos banho e parte do grupo ficou descansando na pousada e a outra aproveitou para conhecer melhor a cidade.
No outro dia tomamos café em uma panificadora da cidade, e voltamos para pousada para arrumarmos nossas coisas e retornarmos a Uruaçu.

Com essa visita à comunidade de Cavalcante conseguimos aproveitar e vivenciar parte da realidade cultural dos Kalungas, um povo solidário, unido às outras comunidades, onde as pessoas apresentam uma rica diversidade cultural valorizada e conservada dos antepassados até os dias atuais. Que sobreviveram com seus próprios esforços durante muito tempo até serem reconhecidos pelo governo, em agosto de 2004.

Consideramos extremamente necessário esse tipo de investigação, especialmente para nós, acadêmicos dos cursos de Licenciatura, uma vez que atuaremos diretamente na sala de aula, tendo nas mãos a possibilidade de conduzir nossos estudantes à reflexão e à discussão das suas crenças fazendo com que pelo próprio desvelamento, as atitudes preconceituosas de alguma forma se reduzam e assim contribuamos para a construção de uma sociedade mais igualitária num futuro não muito distante.